Vai ter volta sim



Alexandre Dumas trouxe com maestria singular todo o passo a passo de uma vingança bem bolada. É perceptível dentro do universo de O Conde de Monte Cristo  como a mente humana pode ser perversa quando o assunto é a máxima de “devolver na mesma moeda”.  É delicioso acompanhar o incentivo heroico que é fruto da cólera de Dantés, atingir aqueles que nos feriram pode ser um dos desejos internos mais vergonhosos que a gente pode ter, a gente deseja, mas a gente não fala. 

Cá entre nós, o sentido real da lei do retorno não é simplesmente o da justiça, ou o de lição a ser ensinada, vai mais além, é o demoniozinho que fica na nossa cabeça dizendo “ não faz igual não, faz pior”.

Lembro de gente que vacila e pede desculpa, por mais sincero que seja, ninguém está imune a receber  o troco, a gente tem dessa mania de atribuir à vida coisa que a gente não pode ( ou não deve) fazer,  “ Se prepare que a vida providencia...” É bem mais fácil pensar assim, dá uma espécie de acalento para as coisas que a gente não pode mudar, essa promessa de que um dia o outro vai sofrer também ( igual, ou pior)

Nem toda ferida que é aberta dói na mesma proporção, um arranhão ao cair de bicicleta não é igual a um corte que precise de vários pontos, daí vem a nossa percepção de intensidade, quem é ferido, principalmente por alguém que tem muito apreço ,simplesmente quer só deixar pra lá, é a regrinha básica de perdoar e continuar de cabeça erguida, é uma maturidade que a gente faz questão de estampar e dizer “ são águas passadas.”   Não mente por completo quem tem todo esse discurso de bom moço, mas no fundo a gente remói, a gente repensa, a gente “ re-sofre” toda vez que lembra. Algumas feridas abrem mais fundas do que outras não é mesmo? Enfim, não nos cabe decidir a hora nem lugar, mas acreditar numa coisa. Tudo aquilo que você fez, volta.

E volta sim.

Não falo das coisas boas não, essas são lições que precisam fartamente ser ensinadas, as ruins é que são marcantes, são as que ficam, que deixam cicatrizes , que se fecham, mas viram marca, e de vez em quando doem , e é essa dor que a gente deseja, que esbraveja, que amaldiçoa, “ um dia vai acontecer com você também” , internamente a gente diz sim , a gente deseja.

E acredite ou não. Um belo dia isso acontece.

E pode crer meu amigo.

Acontece sim.

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