Quem bate, não sente
Observem o
Padrão. Moço bonito e bem tratado, as vezes nem tão tratado assim, bom porte, quem
liga pras boas maneiras? Beleza é critério ESSENCIAL quando a gente escolhe
alguém, sim, as letras garrafais são necessárias, o bonito é o que nos agrada,
o exterior é o que provoca nossa tensão sexual, o belo é o pré-requisito, e não
exceção.
Nesse mundo
tão exigente, não é de se admirar tão conhecida historinha, procuramos a
imperfeição em cada milímetro da nossa análise, deixamos de lado o otimismo
trivial, e rejeitamos alguém só por uma falha no dente, ou por uns quilos a
mais. Faz-se questão de exteriorizar o errado num pacote quase todo certo,
martelando as teclas como se a pessoa fosse um produto usado à disposição, “ é
bom, mas tem esse defeitinho aqui. E
assim, a matriz pessoal torna-se o defeito, a pessoa se torna conhecida pela
exceção, e não pelo pré-requisito. Ai que está o erro.
Cochichamos
no ouvido dos mais próximos quando chega alguém no recinto, “ está vendo aquele
lá, metade da cidade já pegou”, “ percebe essa que está com ele, vive embriagada”,
nos tornamos a sombra do nosso comportamento, somos selecionados e citados dentro
do conhecimento pequeno daqueles que pouco nos conhecem, dos que participam do já
conhecido telefone sem fio de “fulano me disse...”
Acostumam-se
às pedras os leprosos, a gente só fica perto de quem nos agrada, afinal de
contas, quem vai chegar perto de quem não dá uma dentro? A paciência é um dom,
mas poucos a tem.
Vale
lembrar os testes que rondam o nosso convívio, vale lembrar que muitas
vezes a mão que afaga é a mesma que apedreja, vale lembrar que não se tire os
créditos dos mais próximos.
Intimidade
é um abre alas pra o jogo do “vamos apontar o seu defeito e rir disso”,
intimidade é poder fazer isso, mas desconhecer a hora de parar, intimidade
limita o grito de desaprovação e ascende o da paciência. Os de casa ( uma forma
de chamar os mais próximos) sabem da nossa falta de caráter, sabem onde a lança
nos atinge, fazem essa judiação, proposital, ou não. Quem se importa? Dói do
mesmo jeito. Quem bate não sente.
A rotina
por vezes é um apedrejamento diário, é só uma metáfora para entender, ninguém
faz por onde as falhas que possui, algumas são evitáveis, outras nem tanto, mas
ainda sim vale lembrar, elas são igualmente dolorosas, não há bom humor, não há
boa vontade, não há sorriso fingido que mude a sensação por dentro, é a de
querer e não poder, é de atingir o inalcançável, é como uma falha lembrada a
cada tom de brincadeira, a cada tirada sem graça.
Verdade
seja dita, e aqui vai um recado, é curto, é sintético. Mais vale uma mudança de
comportamento que (mais) um pedido de desculpa.
Paciência é um dom, mas não é um refil. Não
teste a dos outros.
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